sábado, 15 de fevereiro de 2014

Dona Diva e Seu guarda chuva Cor de Rosa

 

Eu encontrei ela. Ela me encontrou.

Uma mulher e seu guarda chuva cor de rosa. Vocês devem estar se perguntando: pessoas com guarda chuvas cor de rosa, evento comum no cotidiano da vida em dias de chuvas. Mas esta experiência foi particular no cinza da cidade. Inusitado e amoroso foi este encontro.

Estava eu, saindo do supermercado, onde em um dia de céu cinza, eu na minha abundancia sabedoria popular, olhei para o céu e pensava antes da sair de casa que dava tempo de ir ao supermercado e voltar antes da chuva cair. O fato é que a chuva caiu com gosto e desejo de chão. Isso não criou a sensação em mim de desacreditar na minha capacidade de ler a natureza, apenas reafirmou em mim, as capacidades das mudanças climáticas de fazer-me enganar em relação a uma profecia de hora para chover. Coisas da vida!

Voltando a saída do supermercado, estava eu lá, esperando a chuva passar, e olha que era água, linda de ver, viver e sentir. E é aí que entra a Dona Diva do guarda chuva Cor de Rosa. Ela se aproximou dizendo que assim como eu, ela iria esperar a chuva passar para seguir seu caminho, pois enxergava muito mal e corria o risco de cair e se machucar. Enquanto ela falava meu desejo era dizer:

- Por que a senhora não tira o óculos de sol, afinal o dia está escuro e os óculos podem limitar ainda mais sua visão.

Porém, imediatamente ela continuou a falar, e me perguntou:

- Quantos anos você acha que eu tenho?

Eu disse (perguntando) com muita generosidade:

- 65 anos?

Ela respondeu:

- Que boa você é menina! Tenho 86 anos. E sou animada, tenho 5 netos. Minhas filhas, graças a Deus, tiveram poucas crias. E o meu neto mais velho vai ter filho essa semana lá em Goiânia e serei bisa.

Eu disse:

- Que bom! Parabéns!

Ela disse:

- Minha filha, você é jovem. Tem 25 anos?

Eu sorri, de alegria é claro, e disse:

- Não, um pouco mais, só um pouco.

Então ela disse:

- Eu nunca erro em idades de mulheres. E só te digo que você tem que viver a vida com alegria e resguardos. Vá ao medico e faça exames todos os anos, quando tiver filhos, cumpra o resguardo, pois extravagância durante o resguardo, estraga a vida da mulher. Namore muito e tenha paciência. Estude, mas cuidado para não ficar doida de tanto ler, pois meu neto sofre dessa doença.

Enquanto ela falava as lágrimas já estavam descendo, mas tive a impressão de que ela não percebeu, pois os óculos de sol, eram realmente escuros para o momento.

No final da conversa,  já acolhidas e aconchegadas pelo guarda chuva cor de rosa, eu me despedi, dei um beijo em seu rosto cheiroso (sabe aquele cheirinho de pó de arroz que nossas avós usavam?) e fui saindo. Ela me chamou de volta e disse:

- Qual seu nome?

Eu disse meu nome. Ela disse:

- Nome da minha neta. Só que ela tem medo de chuva, você não tem?

Eu sorri e continuei meu caminho molhada com os pingos da chuva. Ela saiu devagar e ouvi ela dizendo: eu vou devagar até chegar, logo eu chego!

Naquele dia, com a mesma intensidade que agradeci aos Deuses e Deusas das águas por enviarem as chuvas, agradeci por encontrar guarda chuva cor de rosa e oxalá a vida nós de acolhida com cheiro de pó de arroz e tons de rosa.